As organizações sociais sofreram muito com a pandemia da Covid-19. Por um lado, sua captação de recursos foi bastante prejudicada com as medidas de isolamento social necessárias para conter o vírus. Por outro, a demanda por ações sociais cresceu exponencialmente. Para todos nós, a tecnologia foi fundamental nesse período. Passamos a trabalhar, estudar e nos relacionar por meios digitais. Para as OSCs não foi diferente. Mas boa parte delas estavam atrasadas em seu processo de digitalização, e precisavam de ajuda para correr atrás do tempo perdido.
Cintia Kawasaki, fundadora da Woko Tech, consultoria que ajuda organizações sociais a implementarem soluções de tecnologia para organizações sociais, sempre conciliou a atuação social com o trabalho na área de tecnologia. Atualmente, ela mora em Boston, onde trabalha na Accenture. Com a pandemia, ela viu como muitas organizações sociais estavam em dificuldade e, com a amiga Elizabete de Paula, que também trabalha na área, decidiu criar um projeto para ajudá-las a implementar soluções tecnológicas, agregando valor às organizações.
Elas lançaram o projeto Tecnologia de Impacto em fevereiro de 2021, esperando que talvez algo em torno de 30 ONGs tivessem interesse, mas se surpreenderam quando receberam mais de 300 contatos. Selecionaram algumas organizações para trabalhar.
A Associação dos Jovens Indígenas Pataxó (AJIP), do sul da Bahia, precisava ter uma presença digital, pois foram muito impactados pela pandemia. Elas criaram um site para dar visibilidade ao trabalho realizado, com blog, fotos, e conseguiram uma parceria com uma plataforma para receber doações online. Já a Acreditar, que atua com microcrédito produtivo para mulheres da região Nordeste, aplicava questionários em papel no trabalho de campo com as mulheres atendidas em zonas rurais, e os dados tinham que ser manualmente compilados em planilhas do Excel para serem inseridos no sistema. Elas criaram um questionário digital que pode ser preenchido offline, em tablets, e automaticamente inseridos no sistema quando conectados via Wi-Fi.
Além dessas organizações com as quais elas atuam pro bono, muitas outras OSCs entraram em contato falando que precisavam de ajuda com tecnologia e podiam pagar por isso. Assim, elas criaram também a Woko Tech. Ao conhecer o trabalho incrível da Cintia, o Instituto Órizon fez o convite para que ela auxiliasse com as Teses de Digitalização de duas organizações que participaram do edital do instituto e declararam precisar de ajuda com temas tecnológicos: a Fundação Iochpe e o Instituto Ser Mais.
Conversamos com a Cintia sobre as necessidades das organizações sociais quando o assunto é tecnologia, como elas devem trilhar um caminho para a digitalização e tendências e perspectivas para o futuro.
Como as ONGs podem usar a tecnologia de forma mais estratégica?
São três passos: o primeiro é entender por que a OSC precisa de tecnologia, pensando de forma abrangente, o uso de internet, sistemas, redes sociais, aplicativos… O primeiro ponto é pensar: “qual a maior necessidade de hoje?” Identificado o que precisa, o próximo passo é como fazer para implementar. Hoje em dia, para fazer um site é muito fácil, há 15 anos precisava contratar um desenvolvedor e pagar R$ 20 mil, agora tem plataformas que permitem que pessoa consiga fazer em um dia, não precisa saber código. É preciso pesquisar qual tecnologia é a mais acessível. O terceiro passo é a manutenção. A partir do momento que tem o site, como alimentar isso. A resposta vai ser diferente para cada organização.
Qual foi sua percepção sobre as necessidades das organizações que participaram da Tese de Digitalização do Instituto Órizon, e qual o principal aprendizado que deixou para elas?
O mais relevante do processo de mentoria foi o nível de maturidade das organizações sociais para implementar soluções de tecnologia. Todo mundo quer usar tecnologia, mas não sabem como começar, nem com quem conversar. As OSCs falam: “queremos uma plataforma de tecnologia”. Mas o que isso significa em termos de custos, de equipe interna, dedicação, pesquisa? As perguntas certas foram feitas para que eles entendessem o que significa realmente esse processo.
O que você vê de tendências e perspectivas para o futuro em relação à tecnologia e iniciativas de impacto social?
Nossa, muito potencial… Acho que o próprio Tecnologia de Impacto mostrou isso, quando colocamos o edital, as organizações sociais se mostraram muito interessadas, hoje em dia não só o setor social, mas o setor privado não consegue ignorar a tecnologia, no sentido amplo da palavra. Cada vez mais, as organizações vão precisar se digitalizar, o uso de tecnologia vai ficar mais amplo, e o que estamos fazendo é trabalhar para que esse acesso seja mais fácil. É para isso que a Woko existe, porque sabemos que não é fácil, considerando recursos limitados, falta de conhecimento, tudo o que o terceiro setor passa de dificuldade, principalmente no Brasil.
Para saber mais:
Tecnologia de Impacto
Woko Tech