Os videogames provocam polêmica desde que começaram a se popularizar, na década de 1980. Afinal, eles são positivos e negativos para as crianças e adolescentes? Podem provocar dependência ou comportamentos indesejáveis? Ou podem ajudar os jovens a desenvolver habilidades importantes para a vida? Há muitos estudos sobre o tema, mas ainda sem uma conclusão definitiva.
O que não dá para negar é que, cada vez mais, os jogos eletrônicos são um aspecto importante da vida das crianças e adolescentes. Entre a geração Z, dos nascidos entre 1995 e 2009, 82% jogam videogames mais que 10 horas por semana. Na geração Alpha, entre os que tem 8 e 11 anos, são 91%. Os videogames são a principal forma de socialização e diversão para 90% dos jovens da atualidade, e a grande maioria acha que os jogos estimulam a inspiração e promovem a colaboração e o trabalho em equipe.
Isso mostra que insistir em tirar os jovens dos games é uma missão impossível. A melhor estratégia é se apropriar desse meio, e utilizar os recursos que tanto atraem a garotada para melhorar a vida deles aqui no “mundo real”. As possibilidades educacionais dos games já são bem conhecidas, e há uma grande variedade de conteúdos educacionais “gameficados” que trouxeram ótimos resultados em aprendizagem.
As pesquisas sobre as gerações Z e Alpha também mostram que a maioria dos jovens lutam com problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, e têm medo do futuro, em especial das consequências das mudanças climáticas, degradação ambiental, desigualdade de renda e dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. Por que não utilizar os jogos eletrônicos para engajar os jovens para lidar melhor com esses problemas?
Nos jogos mais bem elaborados, a experiência humana é otimizada. Neles, o jogador tem uma missão a cumprir, está cercado de pessoas dispostas a colaborar nessa missão, aprende com os erros e, apesar das diversidades, não desiste até conquistar o objetivo. Se os jovens conseguem fazer isso com tanta habilidade e dedicação nos ambientes virtuais, como reproduzir na vida real, para os objetivos profissionais, de relacionamentos etc?
A mecânica dos jogos de videogame tem como ponto central um sistema de feedback e recompensa. Esse sistema permite o sentimento de realização, que mantém o jogador motivado e engajado no jogo. Você não precisa criar um videogame educacional, basta incorporar esses mecanismos em dinâmicas e projetos educacionais, e certamente você obterá uma resposta mais positiva dos estudantes. A gameficação dita que o fracasso é parte essencial da jornada, se levar ao aprendizado. Prestando atenção a no que a gente errou, não desistimos, tentamos de novo e conseguimos “passar de fase”.
Mas, na vida real, seja na escola, no trabalho ou na vida afetiva, não lidamos bem com o fracasso e temos dificuldade de aprender com as derrotas e manter a motivação. Talvez o mindset do jogador de videogame possa quebrar esse círculo vicioso. Além disso, os videogames tem um imenso poder de estimular a imaginação e o pensamento criativo. E definitivamente precisamos desses atributos para resolver os grandes problemas que a humanidade enfrenta e construir um futuro melhor.
Nossos jovens estão passando por uma situação difícil. A pandemia da Covid-19 agravou a epidemia de depressão e ansiedade, as perspectivas de carreira e futuro são nebulosas, a situação econômica está complicada. Mas, ao ligar o videogame, eles se tornam mestres supermotivados e capacitados. Alguns acham que, no futuro, a maioria vai se refugiar definitivamente em universos de realidade virtual e abandonar o mundo real. Mas esta não é a única alternativa. Talvez, ao tornar esse mundo real mais próximo dos videogames, não precisaremos mais ter medo do futuro.