Cresce o número de crianças não alfabetizadas no Brasil. Como reverter esse quadro?

Após mais de dois anos do início da pandemia da Covid-19, as escolas já estão reabertas e as crianças e adolescentes, do berçário até o ensino médio, retomam a rotina nas salas de aula. Mas os graves efeitos causados pela pandemia e por mais de um ano de escolas fechadas em todo o mundo na educação devem ser sentidos ainda por muitos anos, até décadas. Pesquisas já estão demonstrando o tamanho do déficit pedagógico que os alunos sofreram nesse período, mesmo com o ensino à distância.

Já há, por exemplo, dados confiáveis mostrando que o impacto da pandemia nas crianças em idade de alfabetização foi relevante. A Todos Pela Educação produziu uma nota técnica, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do IBGE entre 2012 e 2021, que confirmou os efeitos negativos da Covid-19 sobre a educação pública brasileira.

Entre os dados apontados na nota, podemos destacar que, entre 2019 e 2021, o número de crianças entre 6 e 7 anos que não sabiam ler e escrever, segundo seus responsáveis, aumentou 66,3%. De 1,4 milhão, o total passou a 2,4 milhões de crianças em dois anos.

Defasagem na alfabetização agrava desigualdade

A pesquisa também concluiu que aumentou a diferença entre crianças brancas e as pretas e pardas. Entre as últimas, o percentual era de 28,8% para as pretas e 28,2% para as pardas em 2019, passando para 47,4% e 44,5% em 2021. Para as crianças brancas, o aumento foi de 20,3% para 35,1%. O contraste também aumentou entre as de famílias mais ricas e mais pobres. Entre as mais pobres, as que não sabiam ler e escrever saltaram de 33,6% para 51%. Nas mais ricas, subiu de 11,4% para 16,6%.

A situação é grave, pois esse aumento da desigualdade educacional se refletirá em um agravamento ainda maior da nossa desigualdade social nos próximos anos. É preciso agir rápido para reverter este quadro. Mas como fazer isso?
Para começar, é preciso identificar quais são as crianças com essa defasagem e fazer um trabalho focado com elas. Este trabalho deve ser guiado por um planejamento pedagógico com ênfase na recomposição de aprendizagens. No caso, recompor não significa apenas de recuperar conteúdos, mas traçar estratégias de acolhimento, flexibilização curricular, avaliação diagnóstica e acompanhamento.

Acompanhamento familiar faz a diferença

Neste momento, o engajamento das famílias é fundamental. Durante o período do ensino remoto, a atuação das famílias fez a diferença para o trabalho da escola. Agora, com a retomada das aulas presenciais, a parceria deve continuar. Pais e responsáveis podem acompanhar a frequência e a aprendizagem das crianças e participar nas atividades escolares.

Cabe à escola estabelecer linhas de diálogo com os familiares e orientar sobre como eles podem acompanhar de forma mais efetiva. Essa interação pode ser de forma coletiva, em assembleias e reuniões, e também de forma individualizada, principalmente com as famílias das crianças que apresentem maior defasagem e precisam de mais ajuda.

O estímulo à leitura e escrita com livros infantis, histórias e quadrinhos, e até aplicativos para celular e tablet, são ferramentas paradidáticas que fazem toda a diferença. Além de facilitar a alfabetização, esses recursos despertam na criança o gosto pela leitura, a escrita e o conhecimento, garantido um bom desempenho escolar e o desenvolvimento das competências linguísticas e comunicacionais.

Reverter as perdas educacionais na pandemia é um grande desafio que exige o esforço da gestão escolar, professores, poder público e famílias, mas que precisamos enfrentar. Nosso futuro e o de nossas crianças depende disso!

Para saber mais:

Nota técnica “Impactos da pandemia na alfabetização das crianças – Todos pela Educação


Engajamento das famílias é essencial na recomposição de aprendizagens – Nova Escola

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