Cultura deve ser protagonista no enfrentamento às mudanças climáticas

A Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou em 19 de março que 2024 foi o ano mais quente nos 175 anos de registros científicos confiáveis sobre a temperatura média global. O ano também foi o primeiro em que a temperatura global ultrapassou em 1,5°C a média do período pré-industrial (1850-1900). 2024 também foi o ano mais quente desde 1961 no Brasil. O recorde anterior era de… 2023. Estes dois anos tiveram a influência primeiro do fenômeno El Niño, em que as águas superficiais mais quentes do Oceano Pacífico Oriental liberam calor adicional na atmosfera, e depois do La Niña, em que as temperaturas baixam no Pacífico Oriental. O El Niño foi um dos mais rápidos e intensos já registrados, atingindo o ápice no início de 2024, e logo depois inverteu para La Niña. Mas é consenso entre os cientistas que estudam o clima a contribuição do carbono emitido pelas atividades humanas no aquecimento do planeta.

As consequências destes anos anormalmente quentes foram também um recorde de fenômenos climáticos extremos, como secas, chuvas intensas, ondas de forte frio e calor. Aqui no Brasil, tivemos em 2024 as cheias históricas no Rio Grande do Sul entre abril e maio e, posteriormente, uma das maiores estiagens dos últimos anos, que impactou diretamente a produção (e o preço) dos alimentos, como frutas e café. O forte calor e seca na região do Mediterrâneo impactou a produção e o preço do azeite de oliva, e na África, impactou o cacau (e o preço do chocolate). Os desastres provocados por fenômenos climáticos levaram, em todo mundo, a 36 milhões de pessoas terem que se deslocar de suas casas, o maior número em 16 anos.

Em resumo, a crise climática é uma realidade que já está afetando todos os aspectos das nossas, vidas, e impacta em especial os mais pobres e vulneráveis. Em novembro deste ano teremos em Belém do Pará a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), com presidência do Brasil, e ouviremos falar muito sobre como enfrentar essa crise climática, os recursos necessários e os desafios.

Pesquisa destaca a importância dos saberes tradicionais

Para que cada indivíduo, organização, comunidade ou outra coletividade entenda o tamanho de desafio e o que cada um pode fazer, colaborativamente, para mudar esse quadro, a cultura é um campo fundamental. Uma pesquisa recente realizada  pelo projeto C de Cultura, em parceria com a Outra Onda Conteúdo e o suporte técnico do Instituto Veredas, revelou dados essenciais sobre como a cultura como um agente transformador na agenda climática global. O levantamento identifica desafios essenciais e traça caminhos estratégicos para a construção de políticas e programas que integrem cultura e o compromisso ambiental.

O relatório da pesquisa ressalta como a percepção da população global sobre a crise climática começa a mudar, principalmente porque seus efeitos afetam o cotidiano – e o bolso. Mas pondera que, mesmo o assunto estando cada vez mais presente na mídia, o debate em torno de soluções se restringe a espaços com pouco acesso ao cidadão comum, com linguagem técnica, pouco compreensível e baixa representatividade. É aí que entra a cultura como um agente com alto potencial transformador.

Os saberes tradicionais das populações, incluindo povos indígenas e comunidades locais, por exemplo, são um excelente meio para espalhar a conscientização ambiental e sobre as ações de mitigação dos desastres climáticos. A pesquisa aponta que a incorporação desses saberes presentes principalmente nas populações do Sul Global, traz perspectivas fundamentais para aumentar o rol de vozes que são ouvidas sobre os temas ligados às mudanças climáticas. Ainda prevalece a visão de pesquisadores e estudos que muitas vezes não consideram as especificidades de vivências e contextos locais das populações que estão longe dos grandes centros econômicos e culturais.

Políticas culturais não abordam o clima de forma sistêmica

A pesquisa concluiu ainda que, apesar de muitos artistas e organizações culturais estarem conectados a pautas ambientais, boa parte das políticas culturais ainda não fomenta a ação climática de forma sistêmica e efetiva, para além de algumas poucas experiências em nível local. Os autores afirmam que o contexto de mudanças climáticas demanda a construção de uma governança cultural para a agenda climática, envolvendo fazedores de cultura, povos indígenas, comunidades tradicionais e detentores de bens culturais, de modo a gerir efetivamente os riscos de desastres para o patrimônio cultural e natural e promover a garantia do pleno exercício dos direitos culturais.

O apoio do setor privado a atividades culturais é um case de sucesso no Brasil e no mundo. A cultura é o que nos une enquanto sociedade, são nossas narrativas compartilhadas, que dão sentido à nossa vida. Neste momento em que o principal desafio existencial da humanidade são as mudanças climáticas – articulado a muitas outras questões, como a pobreza e a desigualdade social – precisamos da força da cultura para que realmente cada ação individual e local gere sinergia para o grande esforço coletivo.

Outro campo essencial e que pode ser articulado com a cultura para gerar um efeito multiplicador é a educação. O ensino formal deve também agregar esses saberes e conhecimentos tradicionais compartilhados pelas comunidades em projetos educacionais e pedagógicos com foco na preservação ambiental e no enfrentamento da crise climática. O Instituto Órizon, que apoia organizações sociais atuantes na educação e que incorporam a cultura em suas atividades, acredita nessa convergência entre consciência ambiental, educação e cultura!

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