Em 8 de março celebramos o Dia Internacional da Mulher, data que celebra a luta das mulheres por seus direitos e por igualdade. Devemos celebrar e promover os avanços das mulheres também porque elas são as principais agentes de transformação para construirmos o mundo que queremos. A maior parte dos líderes de organizações sociais e filantrópicas são mulheres, e pesquisas mostram que o investimento em ações sociais que têm meninas e mulheres como foco geram um efeito multiplicador positivo em toda a sociedade.
Ainda assim, as organizações que atuam diretamente em ações focadas em meninas e mulheres recebem, atualmente, apenas 1,8% dos recursos de filantropia nos EUA. Os dados são da iniciativa The Giving List Women, que seleciona e recomenda organizações sociais focadas na população feminina. A missão da iniciativa é incentivar doadores, independente do porte ou tempo de existência, a enxergar meninas e mulheres como uma lente, e não apenas uma via para a filantropia. Uma das principais parceiras da Giving List Women é a Bill & Melinda Gates Foundation, uma das gigantes da filantropia, com um fundo de cerca de 67 bilhões de dólares e a missão declarada de “gastar tudo” em ações de impacto social, e que tem a equidade de gênero como uma de suas principais prioridades.
A The Giving List Women lançou em 2024 um livro com muita informação sobre a importância das mulheres para a filantropia e o impacto social e sobre organizações de todos os portes e orientações que centram suas ações nas meninas e mulheres. Um dado relevante é que as mulheres são ao mesmo tempo a maioria entre as prováveis vítimas de desastres naturais intensificados pelas mudanças climáticas, e também as líderes na implementação de soluções contra as mudanças climáticas. Mesmo assim, elas ainda estão sub-representadas na liderança de alto nível sobre o tema. Por exemplo, na COP29, realizada em 2024 no Azerbaijão, nenhum dos 28 membros do comitê organizador era mulher.
Mulheres vão controlar cada vez mais recursos
Outro fator vai potencializar muito a capacidade das mulheres em doarem para projetos que ajudem outras meninas e mulheres. Até o fim dessa década, assistiremos ao maior processo de transferência de recursos financeiros da história, com a geração baby boomer, que possui a maior parte dos recursos atualmente, os repassando para seus herdeiros. Segundo a consultoria McKinsey, nos EUA as mulheres controlam hoje um terço dos recursos financeiros familiares, cerca de 10 trilhões de dólares. Mas com a maior parte da riqueza dos baby boomers hoje controlada pelos homens, suas esposas, que tendem a serem mais jovens e viver mais, vão controlar cada vez mais essa riqueza nos próximos anos.
Para um artigo publicado na Stanford Social Innovation Review, essa é uma oportunidade única para organizações sociais ganharem acesso a esses recursos ao centrar seus esforços de captação de recursos nessas mulheres. O artigo traz o exemplo das três mulheres mais influentes da filantropia atualmente. Melinda Gates, após se divorciar de Bill Gates, anunciou que irá investir US$ 12 bilhões em iniciativas para o empoderamento feminino. MacKenzie Scott, ex-esposa de Jeff Bezos, já doou mais de US$ 19 bi para milhares de OSCs, e Laurene Powell Jobs, viúva de Steve Jobs, também já investiu bilhões por meio de sua organização Emerson Collective. As autoras do artigo, Heather McLeod Grant e Jessica Robinson Love, são conselheiras de indivíduos e famílias doadoras e afirmam que, pela sua experiência, as mulheres costumam ter uma abordagem diferente dos homens. Elas costumam doar mais em proporção ao seu patrimônio, doar de forma mais ampla, para mais organizações e mais diversas, e são mais propensas a fazer trabalho voluntário e trabalhar mais colaborativamente.
Aqui no Brasil, a organização ELAS+ Doar Para Transformar, um fundo de justiça social e ambiental, feminista e antirracista, que há mais de 20 anos investe no fortalecimento de organizações e grupos liderados por mulheres cis, trans e outras transidentidades. Foi o primeiro fundo a investir exclusivamente na promoção do protagonismo das mulheres, pessoas trans, não binárias, e que conhece toda a multiplicidade e singularidade desse universo. Em 2024, por meio do edital Mulheres em Movimento, o fundo apoiou com um total de R$ 3 milhões 62 iniciativas nas cinco regiões do Brasil. Cada grupo receberá até R$ 50 mil reais. Os recursos podem ser usados para o fortalecimento institucional, o fortalecimento de suas lideranças e para viabilizar o ativismo da organização.
O Instituto Órizon, que é liderado por mulheres, também acredita que o foco na população feminina é fundamental para destravar o potencial da filantropia e de fato transformar nossa realidade. Neste dia 8 de março, homenageamos todas as mulheres que fazem a diferença todos os dias!