Em 8 de setembro é comemorado o Dia Mundial da Alfabetização. A data foi instituída em 1967 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o objetivo de ressaltar a importância da alfabetização para o desenvolvimento social e econômico mundial. De fato, a alfabetização não apenas é um direito humano fundamental, que dá acesso a outros direitos e ao exercício da cidadania, mas também é a chave para o desenvolvimento de uma comunidade ou país.
Até não muito tempo atrás, a maioria das pessoas não era alfabetizada. Mas, no último século, isso mudou, e em muitos países a alfabetização é hoje quase universal. Mesmo assim, atualmente existem cerca de 773 milhões de adultos em todo o mundo que não dominam as competências básicas em escrita e leitura, segundo dados de 2019 divulgados pela Unesco. Como é de se esperar, a grande maioria dessas pessoas vivem em países pobres e subdesenvolvidos.
No Brasil, o analfabetismo diminuiu consideravelmente nas últimas décadas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), temos ainda cerca de 11 milhões de analfabetos, com base nos dados de 2019 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua). A taxa de analfabetismo passou de 7,3% (2016) para 6,6% (2019) entre a população acima de 15 anos, e o analfabetismo no Brasil está diretamente ligado à idade. Quanto mais alta a faixa etária, maior a proporção de analfabetos.
Pandemia impactou a alfabetização
Infelizmente, a pandemia da Covid-19 e o fechamento das escolas por longos períodos em 2020 e 2021 impactou fortemente as crianças em período de alfabetização, gerando um déficit que precisará ser sanado nos próximos anos. Segundo dados da Pnad Contínua divulgados pela organização Todos pela Educação, entre 2019 e 2021, o número de crianças entre 6 e 7 anos que não sabiam ler e escrever, segundo seus responsáveis, aumentou 66,3%. De 1,4 milhão, o total passou a 2,4 milhões de crianças em dois anos.
A pesquisa também concluiu que aumentou a diferença entre crianças brancas e as pretas e pardas. Entre as últimas, o percentual era de 28,8% para as pretas e 28,2% para as pardas em 2019, passando para 47,4% e 44,5% em 2021. Para as crianças brancas, o aumento foi de 20,3% para 35,1%. O contraste também aumentou entre as de famílias mais ricas e mais pobres. Entre as mais pobres, as que não sabiam ler e escrever saltaram de 33,6% para 51%. Nas mais ricas, subiu de 11,4% para 16,6%. Será preciso um esforço concentrado para que esses números não se reflitam em um aumento ainda maior na desigualdade social quando essas crianças entrarem no mercado de trabalho com um grande déficit educacional.
Da alfabetização ao letramento
O entendimento sobre o processo de alfabetização das crianças evoluiu muito, e hoje estamos muito além das famosas “cartilhas”. Atualmente, mais do que alfabetização, falamos em letramento. Ou melhor, de muitos letramentos. O processo começa ainda quando a criança está começando a falar e adquirir linguagem, e não para quando ela aprende a ler e escrever as primeiras palavras. Ouvimos falar muito do “analfabetismo funcional” e realmente muitas pessoas conseguem ler e escrever, mas têm muita dificuldade em interpretar textos, por exemplo. Isso traz muitos impactos negativos na vida delas e para o desenvolvimento de um país. Estimular a criança a ler muito, sejam livros, revistas, histórias em quadrinhos, e outros materiais escritos, e também dar acesso a outros bens culturais, como filmes, música, teatro, exposições de arte etc., são ótimas maneiras de desenvolver esse letramento de forma mais ampla.
Hoje também falamos em outros tipos de letramento, como o letramento tecnológico/digital, cada vez mais importante, pois o domínio da tecnologia é hoje quase tão necessário quanto saber ler e escrever, e o letramento midiático, para que as pessoas saibam “ler” os meios de comunicação para analisar e interpretar as notícias e estarem bem-informadas sobre o que acontece no mundo. Podemos acrescentar também o letramento socioemocional, que é o desenvolvimento das habilidades de relacionamento interpessoal e social, também cada vez mais relevantes tanto para a vida profissional quanto para que sejamos felizes em nossos relacionamentos pessoais.
O Dia Mundial da Alfabetização traz a oportunidade de refletirmos sobre esses grandes desafios e da grande importância de enfrentá-los. Afinal, é o nosso futuro que está em jogo!
Para saber mais:
Dia Mundial da Alfabetização – Fundação Abrinq