Nas últimas semanas, causou polêmica uma proposta da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo de que o sistema de inteligência artificial generativa ChatGPT pudesse ser utilizado para produção de material didático para a rede estadual de educação básica. A inteligência artificial e os “large language models”, ou modelos de linguagem grandes, como o ChatGPT, já são uma realidade que está transformando diversos setores da economia e também a educação. Mas a proposta causou receio pela possibilidade de afastar o essencial elemento humano no processo de ensino-aprendizagem, em especial o papel do professor.
Além de dar orientação e motivação na sala de aula e passar as avaliações, os professores também têm uma função importante no desenvolvimento do material didático, que deve, além de trazer o conteúdo com exatidão, atualizado, para estimular o gosto pelo aprendizado, utilizando uma linguagem acessível e atraente para as crianças e adolescentes. Não é tarefa fácil. Sistemas como o ChatGPT podem ajudar e muito a agilizar o trabalho de produção de material didático, auxiliando a organizar as informações e a sequência didática. Mas os professores são insubstituíveis.
Inteligência Artificial deve ser parte de um projeto pedagógico amplo
Um bom exemplo de como utilizar a inteligência artificial em parceria com os professores para levar a ganhos significativos no aprendizado dos alunos foi apresentando na última edição do festival de criatividade e inovação South by Southwest, ou SXSW, realizado em março na cidade de Austin, no Texas (EUA). O projeto é de uma escola privada local de Austin, a Alpha School, que utiliza uma metodologia guiada por IA que conta com os professores como guias. Segundo essa ótima matéria de Daniela Braun no jornal Valor Econômico sobre o projeto, os alunos têm apenas duas horas de conteúdo acadêmico em sala de aula e o restante do dia para se dedicarem a atividades complementares e extracurriculares, incluindo debates, esportes, jogos eletrônicos (eSports) e atividades artísticas.
Ou seja, o uso da IA é apenas uma parte do projeto pedagógico, e a inteligência artificial entra como ferramenta para potencializar o aprendizado e trazer mais produtividade ao trabalho dos professores. Uma das possibilidades da IA é oferecer itinerários formativos mais personalizados para os alunos, contemplando tanto os que estão mais avançados, e por isso ficam entediados em uma aula normal, quanto os que estão atrasados e ficam cada vez mais “perdidos” na sala de aula.
Professores se tornam guias e motivadores
MacKenzie Price, cofundadora do método de ensino com IA da Alpha School, explicou durante o painel Construindo Inteligência Humana com Inteligência Aritficial do SXSW 2024 que a pandemia da Covid-19 e dois anos de ensino remoto levaram a uma grande variação nos níveis de aprendizados das crianças, e a IA pode ajudar a “equalizar” essa disparidade. Price alerta que não adianta os pais só botarem um tablet na frente da criança e falar para usar o ChatGPT. Ela lembra que essas e outras ferramentas de IA ainda frequentemente produzem “alucinações”, dando respostas erradas.
O método da Alpha School utiliza diversos aplicativos que, em conjunto, atuam como “tutores virtuais” das crianças. Os sistemas são seguros e protegidos e são treinados no currículo básico comum. Por meio dos aplicativos, os alunos realizam leituras, testes e recebem devolutivas em tempo real durante as aulas. MacKenzie Price reforça que os professores seguem sendo essenciais nesse modelo, agora assumindo o papel de “guias”. “Professores não servem só para criar planos de aula, mas para inspirar. Nossos guias buscam entender o que motiva as crianças, suas preocupações e desafios e conectá-las da melhor forma.”
Nós do Instituto Órizon também acreditamos que o futuro da educação passa pela inteligência artificial, mas não pode prescindir do aspecto humano, em especial dos nossos professores!