Nas últimas semanas, uma proposta da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo chamou atenção. Nela, dizia que o sistema de inteligência artificial generativa ChatGPT poderia ser utilizada para produção de material didático para a rede estadual de educação básica. A inteligência artificial e os “large language models”, como o ChatGPT, já são uma realidade que está transformando diversos setores, entre eles a educação. No entanto, a proposta de educação por inteligência artificial causou receio pela possibilidade de afastar o essencial elemento humano no processo de ensino-aprendizagem, em especial o papel do professor.
Além de dar orientação e motivação na sala de aula e passar as avaliações, os professores também têm uma função importante no desenvolvimento do material didático, que deve, além de trazer o conteúdo com exatidão, atualizado, para estimular o gosto pelo aprendizado, utilizando uma linguagem acessível e atraente para as crianças e adolescentes. Não é tarefa fácil. Sistemas como o ChatGPT podem ajudar e agilizar o trabalho de produção de material didático, auxiliando a organizar as informações e a sequência didática. Mas os professores são insubstituíveis.
Educação por Inteligência Artificial deve ser parte de um projeto pedagógico amplo
Um bom exemplo de como pensar na educação por inteligência artificial em parceria com os professores foi apresentando na última edição do festival de criatividade e inovação South by Southwest, ou SXSW. O projeto é de uma escola privada de Austin, a Alpha School, que utiliza uma metodologia guiada por IA que conta com os professores como guias. Segundo matéria de Daniela Braun no jornal Valor Econômico sobre o projeto, os alunos têm apenas duas horas de conteúdo acadêmico em sala de aula. O restante do dia é reservado para se dedicarem a atividades complementares e extracurriculares, incluindo debates, esportes, jogos eletrônicos (eSports) e atividades artísticas.
Ou seja, o uso da IA é apenas uma parte do projeto pedagógico, e a inteligência artificial entra como ferramenta para potencializar o aprendizado e trazer mais produtividade ao trabalho dos professores. Outro benefício da educação por Inteligência Artificial são os itinerários formativos personalizados para os alunos. Assim, é possível contemplar tanto os que estão mais avançados, quanto os que estão atrasados e ficam cada vez mais “perdidos” na sala de aula.
Professores se tornam guias e motivadores
MacKenzie Price, cofundadora do método de ensino com IA da Alpha School, explicou durante o painel Construindo Inteligência Humana com Inteligência Aritficial do SXSW 2024 que a pandemia da Covid-19 e dois anos de ensino remoto levaram a uma grande variação nos níveis de aprendizados das crianças, e a IA pode ajudar a “equalizar” essa disparidade. Além disso, Price alerta que não adianta os pais só botarem um tablet na frente da criança e falar para usar o ChatGPT. Sendo assim, ela lembra que essas e outras ferramentas de IA ainda frequentemente produzem “alucinações”, dando respostas erradas.
O método da Alpha School utiliza diversos aplicativos que, em conjunto, atuam como “tutores virtuais” das crianças. Os sistemas são seguros, protegidos e são treinados no currículo básico comum. Por meio dos aplicativos, os alunos realizam leituras, testes e recebem devolutivas em tempo real durante as aulas.
MacKenzie Price reforça que os professores seguem sendo essenciais nesse modelo de educação por inteligência artificial, agora assumindo o papel de “guias”. “Professores não servem só para criar planos de aula, mas para inspirar. Nesse sentido, nossos guias buscam entender o que motiva as crianças, suas preocupações e desafios e conectá-las da melhor forma.”
Nós do Instituto Órizon também acreditamos que o futuro da educação passa pela inteligência artificial. Porém, não pode prescindir do aspecto humano, em especial dos nossos professores!