Neste início de fevereiro, milhões de crianças e jovens estão voltando às salas de aula de todo o Brasil para mais um ano letivo. A educação é a grande chave para o futuro de um país, ao capacitar as novas gerações para exercerem suas profissões e contribuírem para o crescimento econômico e nosso desenvolvimento científico, tecnológico e cultural. Mas sabemos que, infelizmente, a educação no Brasil tem muitos problemas. Um dos maiores é a evasão escolar, que aumentou bastante na pandemia, tem diversas causas e condena muitos brasileiros a perpetuar o ciclo da pobreza.
O Brasil é o segundo país do mundo com a maior proporção dos jovens “nem-nem”, as pessoas com idade entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham. Segundo os dados de 2022 coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 10,9 milhões de jovens “nem-nem”, que correspondem a 22,3% dos brasileiros nesta faixa etária. Uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) concluiu que os jovens de 18 a 24 anos que não trabalham nem estudam deixaram de contribuir com R$ 46,3 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB).
Desigualdade racial e de gênero se reflete nos jovens “nem-nem”
O fenômeno dos jovens “nem-nem” é global, mas o Brasil é um dos países mais atingidos por essa verdadeira epidemia. São muitos os fatores que formam esse problema complexo e de difícil solução. Olhando os números com mais atenção, verificamos que, por exemplo, deste total de “nem-nem”, 43,3% eram mulheres pretas ou pardas, 24,3% eram homens pretos ou pardos, 20,1% eram mulheres brancas e apenas 11,4% eram homens brancos. Isto evidencia as disparidades de gênero e raciais que também podem ser vistas quando observamos a desigualdade social em nosso país, e reflete nosso racismo e sexismo estruturais.
Dos 10,9 milhões de jovens nem-nem, 4,7 milhões não procuravam emprego nem gostariam de trabalhar. Neste grupo, estão mais de 2 milhões de mulheres que são responsáveis por cuidar dos afazeres domésticos ou dos parentes. O invisibilizado trabalho de cuidado realizado em grande parte pelas mulheres – que foi o tema da redação do ENEM deste ano, vale lembrar – tem, portanto, uma grande parte da responsabilidade por esse universo de jovens “nem-nem”. Ainda assim, a percepção mais comum quando falamos destas pessoas é daquele jovem “que não está nem aí com nada”, que pode existir, mas não reflete a realidade da grande maioria. Eles (e elas) quem ter a oportunidade de continuar os estudos e trabalhar para ter um futuro melhor para si mesmos e suas famílias.
Soluções passam por políticas públicas integradas
A solução desse grande problema, que literalmente está roubando nosso futuro como país, passa pela execução de múltiplas políticas públicas, que ataquem as múltiplas causas deste problema complexo. Permitir que jovens mulheres, principalmente negras e pobres, possam buscar uma formação e melhores empregos, passa por garantir serviços públicos que tirem delas parte desse fardo do trabalho de cuidado. A universalização da educação infantil, com creches e escolas para a primeira infância, é uma das soluções mais fundamentais. Mas também é preciso um trabalho de mudança cultural para que haja maior equilíbrio na divisão das funções domésticas, com os homens entendendo que não basta apenas “ajudar”, eles devem realmente dividir as tarefas.
A pandemia levou a um salto na evasão escolar principalmente nos últimos anos da Educação Básica, e a evasão é um divisor no nível educacional que reflete no socioeconômico. Quem passa bem pelo Ensino Médio está apto a buscar um curso superior e, assim, um “passaporte” para carreiras mais bem remuneradas. Outros, que não conseguem nem concluir o Ensino Médio, ficam à margem das melhores oportunidades e acabma tendo que sobreviver em ocupações informais e precarizadas, quando não acabam sendo recrutados pelo crime organizado. A busca ativa por esses jovens que pararam de estudar na pandemia e nunca voltaram, com incentivos para que eles concluam os estudos e também tenham uma garantia de renda neste momento e possibilidade de emprego futuro, é outra política pública com potencial para mudar este quadro.
Nossos jovens são inteligentes, batalhadores e têm todas as condições de avançarem em seus estudos e concorrerem a bons empregos ou empreenderem com sucesso. Eles precisam de oportunidades para brilhar. Lembremos que o Brasil é um país que está envelhecendo, com queda na taxa de natalidade. Esses jovens “nem-nem” são um verdadeiro desperdício de recursos em diversas frentes. Além de não se integrarem à população economicamente ativa, também deixam de contribuir para a previdência social, agravando ainda mais essa “bomba demográfica”. Enquanto isso, há muitas vagas não preenchidas para profissionais qualificados em diversas áreas, mas principalmente ligadas à tecnologia, simplesmente por não haver pessoas qualificadas disponíveis. Esses jovens, como “nativos digitais”, têm tudo para surfarem nas carreiras ligadas à tecnologia, mas precisam de incentivo para sua formação.
Esse incentivo é um dos propósitos que movem o Instituto Órizon. Elegemos a educação como nosso tema de intervenção exatamente pelo seu potencial de transformar para melhor o futuro das pessoas e de todo um país. As organizações sociais apoiadas por nós têm em comum esse propósito de levar a crianças e adolescentes em vulnerabilidade social ferramentas para agarrarem estas oportunidades, de diversas formas. Acreditamos que é possível!