Futuro dos sistemas de financiamento social exige aproximação entre doadores e OSCs

Nos últimos anos, cresceu no Brasil e no mundo a conscientização sobre os grandes problemas que a humanidade enfrenta no século XXI, em especial as mudanças climáticas, a pobreza e a desigualdade social. A pandemia da Covid-19 evidenciou ainda mais a necessidade de todos fazerem sua parte para ajudar quem precisa e garantir um futuro de desenvolvimento sustentável. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU) trouxeram um conjunto de metas prioritárias que estão sendo usadas por empresas, órgãos públicos e organizações sociais de todo o mundo para balizar suas ações socioambientais.  

A filantropia, entendida de forma ampla como o hábito de pessoas físicas ou jurídicas doarem recursos (financeiros ou não) para ações de impacto socioambiental, já era uma prática estabelecida, mas também cresceu muito nos últimos anos. Indivíduos, empresas, fundos de investimento, fundações, têm buscado cada vez mais apoiar causas que façam a diferença na escala necessária para resolver os grandes desafios do nosso tempo. Como há uma imensa demanda por esses recursos, esses doadores precisam estabelecer prioridades e geralmente doam para causas, ações e organizações que já conhecem e são de alguma forma próximas.  

Com o avanço da filantropia, também cresce a atenção do público sobre essa prática, e as cobranças para que esses recursos sejam aplicados de forma equânime, e cheguem em quem mais precisa sem “escoar” pelo caminho. Em especial, ações que juntam o primeiro setor (poder público), o segundo (empresas privadas) e o terceiro setor (organizações sem fins lucrativos), podem ter recursos desviados por maus atores.  

Catalyst 2030 divulga princípios para potencializar o impacto das doações 

Esse cenário complexo levou à criação do grupo Catalyst 2030, formado por empreendedores sociais e membros de organizações sociais para impulsionar mudanças necessárias nos sistemas de financiamento de ações de impacto social. O grupo criou uma Carta Urgente com dez princípios que devem guiar essas mudanças. São eles:  

1 – Investimento plurianual e sem restrições 

2- Investir no desenvolvimento organizacional  

3 – Investir na construção de redes 

4 – Criar relacionamentos transformadores e não só relacionais 

5 – Construir e compartilhar poder 

6 – Ser mais transparente e responsivo 

7 – Simplificar e agilizar a burocracia  

8 – Oferecer apoio além do financeiro 

9 – Colaborar com outros doadores 

10 – Adotar uma mentalidade sistêmica para as doações 

O Instituto Órizon concorda com essas propostas e, mais do que isso, acreditamos que elas vêm de encontro ao conceito de Venture Philanthropy, que queremos popularizar aqui no Brasil. Fatores como o investimento a longo prazo, o relacionamento mais próximo entre os financiadores e as entidades apoiadas e o apoio não-financeiro são também características fundamentais do Venture Philanthropy. Por isso, com certeza apoiamos a iniciativa do Catalyst 2030.  

Contexto brasileiro traz desafios específicos 

No final de 2022, em parceria com o IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Instituto Social, o Catalyst 2030 realizou o terceiro encontro de uma série de conversas com investidores sociais e filantropos brasileiros. A ideia era partilhar o feedback específico sobre as mudanças para o futuro dos sistemas de financiamento no contexto brasileiro. Essa adaptação é importante, pois casa país possui uma realidade diferente em termos dos marcos legais sobre a filantropia, as necessidades das organizações sociais etc.  

Os filantropos e organizações que realizam investimento social privado puderam dialogar sobre essas especificidades do contexto brasileiro. Em especial, foram discutidas as restrições ao financiamento causadas por fatores como uma certa inflexibilidade das diretrizes para a realização do investimento. Essa rigidez afeta, por exemplo, o apoio à capacitação profissional e a criação de redes.  

Também foram abordadas as diferenças no grau de maturidade de cada organização, que exige diferentes estratégias de investimento e formas de avaliação dos resultados, além da necessidade, que não é exclusiva do Brasil, de intensificar a colaboração entre os diferentes atores no campo no investimento social, evitando o trabalho isolado.  

Uma das soluções apontadas para estimular os investidores sociais a abraçarem esses princípios é criar um sistema de classificação e autoavaliação com pontuações que indiquem o progresso de cada organização na adoção dos princípios. Também consideramos essa uma excelente ideia! 

Ainda estamos no início desse processo de consolidação e amadurecimento da filantropia no Brasil, e iniciativas como essa do Catalyst 2030 são ótimas notícias para fortalecer esse ecossistema e potencializar o investimento social, em termos de valores investidos e impacto gerado. O Instituto Órizon está junto nesse movimento! 

Compartilhe:

Veja também

Usamos cookies para melhorar sua experiência em nosso site. Se você continuar a usar o Instituto Órizon, registraremos que está de acordo. Saiba quais dados são recolhidos acessando nossa Politica de Privacidade.

Quer tranformar também?