Desde o lançamento das plataformas de Inteligência Artificial Generativa, como o ChatGPT, a IA entrou no radar, com a promessa de transformar todos os setores. Já falamos aqui, por exemplo, sobre o impacto da inteligência artificial na educação, e projetos já em andamento nessa área. Agora, vamos nos aprofundar um pouco em como esse tema está sendo visto por quem atua no Terceiro Setor.
O impacto da inteligência artificial na prática
A pesquisa inédita ‘O que pensam as pessoas sobre o uso de IA por ONGs’, realizada pela organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, procurou responder a essa pergunta. O levantamento, que ouviu mais de mil pessoas em 10 países, entre eles o Brasil, revela uma sociedade otimista quanto à adoção da Inteligência Artificial, mas como ressalvas.
Além disso, 37% dos entrevistados acreditam que os benefícios do impacto da inteligência artificial superam os potenciais riscos, em contraste com os 22% que afirmam o contrário. Nesse sentido, a favorabilidade líquida, ou seja, a diferença entre aqueles que são favoráveis ao uso da IA e aqueles que acreditam que os riscos são maiores, no mundo, é de 15%. O Brasil ocupa o segundo lugar entre aqueles que acreditam que os benefícios são maiores que os riscos (30%), atrás apenas do Quênia (44%).
Impacto da inteligência artificial tem grande potencial na resposta a emergências
Os profissionais das ONGs brasileiras veem mais oportunidades que riscos com a introdução da IA, mas quais são, para eles, essas oportunidades e riscos? No lado positivo, eles citam a possibilidade de auxiliar mais pessoas (29%). Além disso, a capacidade de rápida resposta a emergências (22%) e a tomada de decisões mais precisas a partir da análise de dados (16%). Já entre os efeitos negativos, a segurança de dados (30%), a redução de postos de trabalho (26%) e informações e decisões enviesadas (14%).
O tema da resposta a emergências ficou em evidência recentemente com as inundações no Rio Grande do Sul, e nesta área a IA pode contribuir bastante, diz Daniel Assunção, fundador e diretor executivo da Atados, um dos participantes brasileiros da pesquisa. “Ainda antes dos desastres, mapeando potenciais riscos e informando a população na iminência de ser afetada; no momento da resposta, otimizando a distribuição dos recursos e a comunicação entre todos os envolvidos; e depois, avaliando a qualidade da resposta a partir do cruzamento de dados disponíveis”.
Para prevenir os potenciais riscos é muito importante que o Terceiro Setor fortaleça as estruturas de governança, segundo Rodrigo Pipponzi, Presidente do Conselho Grupo MOL. “Os conselhos das organizações podem desempenhar um papel muito importante. Não apenas facilitando a adoção das ferramentas, mas também apoiando a regulamentação de sua utilização e mediando o uso da tecnologia dentro das instituições”.
Maior desigualdade é um risco
Um risco citado pelos participantes é que a adoção das IAs leve a uma desigualdade ainda maior entre as ONGs mais bem estruturadas e financiadas. Uma vez que organizações menores, em geral, atendem nos territórios mais vulneráveis. Para evitar esse efeito indesejado, a regulação das IAs é fundamental. Além das aplicações mais citadas na pesquisa, a IA também pode ajudar bastante no processo de captação de recursos. Em especial na criação de campanhas de marketing digital automatizadas.
Por fim, é importante lembrar que o trabalho de impacto social é fundamentalmente algo de seres humanos para outros seres humanos. A tecnologia pode ajudar muito enquanto ferramenta para alcançar os resultados desejados, mas o aspecto humano deve sempre estar no centro das ações sociais.