Após o “boom” observado nos anos de 2020 e 2021, em 2022 está havendo um reconhecimento sobre as limitações e o verdadeiro potencial do ESG como um conceito que una as iniciativas das empresas nos campos da sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança. No artigo anterior, falamos um pouco sobre esse momento atual e as tendências macro do ESG, e agora falaremos com um pouco mais de detalhe sobre cada uma das letras que compõem essa sigla. Começaremos pelo E, de environment, ou meio ambiente. Ele engloba todas as ações de preservação ambiental, redução da emissão de carbono e outras medidas de mitigação e adaptação para as mudanças climáticas etc.
Importante lembrar que esses três “pés” do tripé ESG são, por definição, interligados, e a política de ESG de uma empresa não deve tratá-los separadamente, e sim como partes de um todo coeso. Mas, de qualquer forma, é fácil entender a diferença entre ações de impacto no meio ambiente ou ações sociais, embora muitas vezes uma ação ambiental precise de uma atenção no aspecto social. Por exemplo: uma empresa de hotelaria que quer desenvolver um novo resort em uma praia do litoral deve, ao mesmo tempo, avaliar e compensar o impacto ecológico do empreendimento e também seus impactos – positivos e negativos – na comunidade local.
Principal desafio é padronização dos indicadores
Pensando mais especificamente na frente ambiental, há algumas macrotendências que se destacam nesse momento de consolidação do ESG. Como falamos anteriormente, agora a prioridade é a padronização e maior transparências sobre as métricas e índices de sustentabilidade, e na frente ambiental este processo está mais adiantado. Afinal, essas métricas são mais objetivas e fáceis de mensurar, sendo o exemplo mais evidente as emissões de carbono. Mas isso não significa que não podem ser manipuladas pelas empresas para divulgar um desempenho melhor do que o real. A Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do setor financeiro nos EUA implementaram nesse ano regras mais rígidas para a divulgação destes dados de risco climático, em parceria com o International Sustainability Standards Board (ISSB), principal referência global no tema. Isso deve aumentar a confiabilidade dos indicadores.
Divesting x engagement
Se em 2020 e 2021 o aspecto social ganhou relevância devido à pandemia da Covid-19 e seus graves efeitos sociais, em 2022 o meio ambiente voltou a ser o tema mais relevante. A crise deflagrada pela guerra entre Rússia e Ucrânia levou a preocupação com o fornecimento de energia à Europa no centro do debate, demonstrando que, embora seja necessária uma drástica redução do uso de combustíveis fósseis, eles ainda são essenciais para a produção de energia, e esse cenário não mudará rapidamente.
Esse cenário fez aquecer o debate sobre a dicotomia divesting x engagement (desinvestimento x engajamento). Basicamente, o divesting quer dizer os grandes investidores e fundos tirarem seus investimentos de empresas com grande pegada ambiental, como as de combustíveis fósseis. Já a abordagem do engajamento propõe que investidores ativistas “comprem” seu espaço nos boards dessa empresa para buscarem transformá-las por dentro, fazendo a transição para empresas de energia limpa. Segundo analistas, o desinvestimento, que tem sido a abordagem preferida dos investidores, tem a desvantagem de concentrar o controle dessas empresas com maior pegada, as deixando menos propensas a mudarem.
Dívida verde ganha espaço
Outra tendência importante no tema ambiental relacionado à questão do financiamento é o crescimento da “dívida verde” ou dívida sustentável. Essa categoria de investimento consiste na emissão de títulos baseados em projetos verdes, empréstimos corporativos e títulos ligados à redução das emissões de carbono. Para evitar que esses títulos se tornem instrumentos de greenwashing, também é necessário que as métricas de desempenho na área ambiental sejam mais padronizados e transparentes.
Em resumo, estamos passando por um período de transição em que as empresas não podem mais apenas executar ações pontuais na área ambiental. A pressão tanto dos consumidores quanto de governos e órgãos reguladores é cada vez maior e, com o aumento da ocorrência e gravidade de fenômenos climáticos extremos, como secas, inundações, furacões e ondas de frio e calor, as mudanças climáticas estão mais e mais visíveis. O mercado e as instituições estão tentando correr atrás para mudar esse rumo, mas a conjuntura geopolítica global não está colaborando. O importante é que o compromisso ambiental hoje não é mais uma opção, é obrigatório para todas as empresas que pretendem continuar competindo em seus setores.
Para saber mais:
Entenda a relação entre ESG e meio ambiente – Um Só Planeta