Para encerrar nosso mês especial ESG do Instituto Órizon, vamos falar agora da última letra da sigla, a menos lembrada, mas que faz tudo ser possível: o G, de “governança”. De forma ampla, governança pode ser entendida como o processo de tomada de decisão de uma organização, como são definidas as prioridades para alocação de recursos, como se dá o relacionamento entre os diferentes públicos que fazem parte da organização.
Pensando em uma grande empresa, a governança trata da estrutura corporativa – o conselho de direção, os executivos e alta diretoria, acionistas e demais stakeholders (colaboradores, consumidores, fornecedores e outros parceiros). A definição do propósito e metas da empresa, a política de remuneração e recursos humanos, a implantação de melhores práticas por toda a organização, o monitoramento e análise dos resultados, a política de compliance e anticorrupção, tudo faz parte da governança. Fica fácil entender como, sem ela, nada funciona.
A governança é essencial do ponto de vista dos investidores que analisam os critérios ESG para decidir investir ou não em uma empresa. Apesar dos aspectos ambiental e social serem mais lembrados, as principais agências de rating que definem e medem os critérios e métricas ESG dão um peso grande à governança. Por exemplo, o sistema de pontuação da MSCI, uma das principais agências de rating, inclui mais de cem métricas de governança.
Como falamos nos artigos anteriores, estamos em um momento importante de consolidação dos indicadores ESG e do que realmente define uma política ESG consistente, levando em conta as limitações e dificuldades de nosso mundo cada vez mais complexo e cheio de problemas – guerras, instabilidade política, pandemia, desigualdade, crise econômica… O aspecto da governança deve levar em conta essas transformações cada vez mais rápidas da sociedade e a complexidade do sistema capitalista atual, em que tudo está interligado em imensas cadeias de valor.
Tendência: governança ao longo das supply chains
Uma das tendências mais importantes do ESG atualmente, em que a governança tem papel importante, é a atenção sobre a sustentabilidade e resiliência das supply chains. Sob a perspectiva ESG, os olhares estão cada vez mais voltados às externalidades e materialidade ao longo da cadeia, por exemplo: violações de direitos humanos e trabalhistas, degradação ambiental, compensação de impactos nas comunidades onde as cadeias estão presentes etc.
A empresa que distribui carne com origem em áreas de pecuária obtidas pelo desmatamento de florestas, por exemplo, ou que usa trabalho análogo à escravidão nas pastagens, deve ser responsabilizada? Uma governança forte pode mitigar esse tipo de risco. O que nos leva a uma das principais definições de governança: ela é, basicamente, a gestão do risco associado à atividade de uma organização.
Diversidade & Inclusão e compensação executiva são outros temas quentes
Um dos temas mais discutidos em relação à governança é a Diversidade e Inclusão no nível executivo das empresas. Como falamos no artigo sobre o pilar social do ESG, a demanda por maior diversidade e inclusão nas organizações avançou muito nos últimos anos, mas também gerou reações e se tornou um tópico no acirramento do debate político. Mas os estudos comprovam que organizações com diretoria e conselho mais diversos obtém mais inovação e melhores resultados por contemplar diversos pontos e vista e modos de pensamento.
Outra tendência que vem se intensificando é o debate em torno da compensação dos executivos das empresas. Em um mundo com uma desigualdade de renda e concentração de riqueza tão grandes, é ético que os líderes das organizações recebam exponencialmente mais do que os colaboradores na base da força de trabalho? Nos EUA, a remuneração média dos CEOs passou de cerca de 20 vezes a média dos trabalhadores da empresa na década de 1960 para mais de 350 vezes atualmente. Muitas empresas têm instituído limitações no pagamento de salários e bônus para os executivos e redistribuindo esse valor por toda a força de trabalho.
Governança ganha relevância no terceiro setor
No terceiro setor, tem avançado a conscientização sobre a importância de uma governança sólida para a sustentabilidade das organizações e maior impacto social gerado. As organizações sociais estão cada vez mais implementando políticas de gestão e governança que seguem as melhores práticas do setor corporativo. O avanço do investimento de impacto social traz a expertise do setor financeiro para o negócio de fazer o bem. O modelo de Venture Philanthropy tem se destacado justamente pelo foco em apoiar as organizações e negócios sociais também na estruturação de sua gestão e governança.
Um dos mecanismos que o Venture Philanthropy trouxe do universo do Private Equity para o terceiro setor é o due dilligence, um poderoso mecanismo de avaliação e diagnóstico das condições de uma organização. O due dilligence faz um amplo mapeamento dos riscos e oportunidades e sugere melhorias na gestão e governança para que a organização, seja uma empresa ou uma OS, potencialize seu impacto positivo.
Como embaixadores do conceito de Venture Philanthropy no Brasil, nós do Instituto Órizon utilizamos o due dilligence e outros mecanismos de governança alinhado às melhores práticas do mercado global de private equity para ajudar organizações sociais que atuam com educação a dar escala a seus projetos e trazer um impacto positivo na vida de quem mais precisa. Assim, fazemos nossa parte para transformar a educação brasileira e garantir um futuro melhor!
Para saber mais:
O G do ESG: inversão da sigla é diferencial para perpetuar negócio – MIT Sloan Management Review