Todos concordamos que a educação é um tema muito importante para o Brasil, e que ela precisa melhorar. Mas o que significa exatamente “melhorar”. A pergunta “como melhorar a educação no Brasil provavelmente terá uma resposta diferente para cada pessoa. E temos poucos dados qualificados sobre como seria essa educação ideal na cabeça dos brasileiros. Sabemos que 20%, ou cerca de 1/5 da população, considera a educação o maior problema do país e que deveria ser prioridade dos governos. Esse dado é da pesquisa Brasileiros e Pós-pandemia, realizada pela CNI/FSB. Mas, em termos práticos, quais são as ações e mudanças prioritárias?
Faltam pesquisas qualitativas sobre o tema, mas podemos ter pistas em diversos lugares. Nas conversas nas reuniões de pais e professores da escola do seu filho, por exemplo, com certeza esse assunto já foi abordado. Nesse momento de campanha eleitoral, o tema estará presente nos debates, com candidatos trazendo propostas sob diversos pontos de vista. Atualmente, um grande fórum de discussões sobre os mais diversos assuntos – e a educação não é exceção – são as redes sociais. Com a pandemia e o fechamento das escolas durante o ano de 2020, foi pelas redes que pais, estudantes, professores, gestores escolares e especialistas debateram a melhor forma de mantarem as crianças e adolescentes estudando, quando se impunha a necessidade do isolamento social.
Filtrar essa infinidade de conversas e opiniões postadas nas redes sociais e extrair delas insights para realmente trazer soluções efetivas para e educação, nesse contexto de necessidade de repor o atraso da pandemia, foi a ideia do estudo “Isolamento adolescente, ideologia e a ausência da voz dos pais: uma análise da escuta social da educação brasileira”, produzido pelo Instituto Brookings. A pesquisa buscou entender o que três atores – pais, estudantes e professores – falaram nas redes no período anterior e durante o isolamento. O objetivo era perceber como esses debates mudaram ao longo do tempo e se os três grupos estava trocando experiências entre eles ou se cada grupo estava falando só entre si.
Polarização política dificulta o diálogo nas redes
Foram rastreados e analisados mais de 3,9 milhões de publicações, feitas entre setembro de 2019 e outubro de 2021. Algumas conclusões são muito interessantes:
• As discussões de pais, alunos e professores nas redes abordam opiniões bem diversas do que costuma aparecer na mídia, seja tradicional ou digital, sobre o tema da educação.
• Os alunos estão bastante insatisfeitos com sua experiência educacional. Isso já era notado antes da pandemia e se intensificou com o ensino remoto.
• A desigualdade educacional se agravou na pandemia e isso foi notado por alunos e professores.
• Reproduzindo o que vimos na sociedade em geral, há valores em disputa e polarização político-ideológica nos debates sobre educação nas redes.
• As vozes dos pais e cuidadores foram menos detectadas, o que pode indicar pouca participação deles na educação dos filhos e nos rumos do ensino no Brasil.
O estudo também foi realizado nos Estados Unidos e Inglaterra, e chama a atenção a diferença entre estes dois países desenvolvidos e o Brasil. Por exemplo, os autores da pesquisa identificaram que, na Inglaterra, os professores e alunos se identificavam mais como parte de uma comunidade, algo que falta no Brasil. Nos três países, a polarização política atrapalhou a troca de ideias entre os três grupos.
O que todos concordamos é que a educação no Brasil precisa mudar para, ao mesmo tempo, garantir que todos aprendam o básico necessário para ter uma vida produtiva, e também se tornar mais atrativa para as crianças e jovens da atualidade, hiperestimulados pela conectividade nas redes. Ouvir o que eles (e também seus pais e professores) pensam sobre como fazer essa mudança para melhor é fundamental!
Para saber mais:
A Voz das Redes na Educação – Ana Maria Diniz – Valor Econômico
Levantamento do Instituto FSB Pesquisa e da Confederação Nacional da Industria, aponta que temas econômicos estão à frente de saúde, educação e segurança