O universo dos investimentos e do mercado financeiro é repleto de termos técnicos, a maioria vinda do inglês. Um deles é due diligence. Você sabe o que significa?
Em português, a expressão pode ser traduzida por “diligência prévia”, ou “diligência devida”. A palavra diligência remete a cuidado, zelo, empenho, e também a pesquisa e investigação. Due diligence é bastante confundida com auditoria, mas embora haja similaridades, elas não são a mesma coisa.
Então, o que é due diligence?
Em resumo, é o processo aprofundado de estudo, análise e avaliação detalhada de informações de uma empresa que, por exemplo, está em negociação para venda ou fusão. Além da auditoria, o processo envolve gestão de riscos e compliance, previsão de cenários de negócios e identificação de oportunidades.
Todos os departamentos de uma empresa podem ser sujeitos à due diligence, mas normalmente ela abarca aspectos financeiros, contábeis, previdenciários, imobiliários, tecnológicos e jurídicos. Ou seja, é um verdadeiro raio x das condições da empresa.
A due dilligence cumpre dois objetivos: aumentar a assertividade do investimento e também ser um momento de “namoro”, onde você desenvolve uma relação de parceria com a organização.
Mesmo empresas que não estejam à venda ou em processo de fusão podem passar pela due diligence. Ela permite ter uma visão ampla da real situação do negócio, compreendendo aspectos como posicionamento no mercado, projeção para o futuro, principais concorrentes e riscos associados ao negócio, além da situação fiscal e contábil e estratégias a serem formuladas para evitar futuros problemas financeiros.
Com o avanço do combate à corrupção, o compliance tem sido cada vez mais exigido das empresas e também faz parte da due diligence. Por exemplo, o processo pode levantar se há “Pessoas Expostas Politicamente” (PEPs) envolvidas com a gestão da empresa. Importante ressaltar que as regras podem variar de acordo com a área de atuação da empresa e a legislação a que ela está submetida.
A due diligence é normalmente realizada por empresas de consultoria com especialização no assunto. É importante que, antes do processo começar de fato, haja um mapeamento inicial da organização para que o consultor conheça melhor o negócio e trace uma estratégia mais eficaz para trabalhar. A partir daí, consultores têm acesso aos livros fiscais, balanços e demonstrações financeiras, certidões e outros documentos da empresa para análise. É importante o diálogo aberto e respeitoso entre o consultor e os funcionários da empresa, para que eles tenham confiança para abrir as informações, sem medo de sofrer alguma represália.
Due diligence como ferramenta de eficiência para organizações sociais
Deu para entender que a due diligence é uma ferramenta muito importante na gestão empresarial, certo? Mas será que ela também tem um papel no terceiro setor? A resposta é sim!
Organizações sem fins lucrativos também precisam ter uma boa gestão financeira, contábil, fiscal e jurídica, entre outros aspectos, para terem uma sustentabilidade a longo prazo e capacidade de realizar ações de impacto social mais efetivas. Embora a gestão das organizações sociais tenha evoluído bastante nos últimos anos, ainda há um longo caminho a percorrer. Temos visto, no contexto da pandemia da COVID-19, como OSs mal geridas ou com envolvimento de pessoas mal-intencionadas podem causar graves prejuízos aos recursos públicos e à população.
Quando fundos de impacto social, por exemplo, buscam organizações para apoiar, é preciso pensar estrategicamente e entender mais a fundo o “negócio” desta instituição-alvo. Essa avaliação deve levar em conta não apenas as condições desta entidade, mas do setor onde ela opera. Entender qual vai ser a fonte do valor social gerado e definir, logo no início da parceria, quais são as metas, objetivos, investimentos necessários etc., faz toda a diferença para alcançar o resultado esperado.
Por isso, quando abrimos o primeiro edital de apoio a organizações educacionais do Instituto Órizon, realizamos um verdadeiro processo de due diligence nas 162 entidades que se inscreveram para entendermos a situação de cada entidade, suas fortalezas e pontos de atenção e risco. Desde o início, decidimos que esse seria um ponto estratégico para o que queremos fazer. Desta forma, conseguimos alocar com mais precisão os recursos financeiros e saber quais aspectos da gestão podemos ajudar com nossa expertise e a de nossos parceiros. Todas as ONGs finalistas do edital estão passando pela due dilligence, que sem dúvida será um grande aprendizado sobre o que elas fazem bem e o que precisam melhorar para gerar o impacto que desejam. Ao final do processo, mesmo as que não vencerem terão um rico material sobre a organização e um plano de ação para aplicar e fortalecer a instituição.
Acreditamos que, como pioneiros no conceito de Venture Philanthropy no Brasil, aplicando ferramentas como a due dilligence concretizamos nosso propósito de contribuir para a transformação da educação no Brasil!