Em setembro, foi realizada em Nova York a 78ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas. O ano de 2023 marca o “meio do caminho” para o cumprimento das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Agenda 2030 da ONU, lançados em 2015. Apesar das ODSs estarem na pauta tanto das ações de ESG das grandes empresas quanto das maiores fundações e organizações filantrópicas e organizações da sociedade civil em todo o mundo, o alerta ao chegar na metade do tempo estipulado é que ainda estamos muito longe de cumprir a maior parte dos ODSs.
A Assembleia Geral da ONU lançou uma declaração exortando todos os países-membros a acelerar a execução das 17 metas dos ODSs. Os objetivos incluem acabar com a extrema pobreza e a fome, universalizar o acesso à água limpa, saneamento básico a atenção básica de saúde, expandir a energia verde, e proporcionar acesso universal à educação e igualdade de oportunidades para reduzir a desigualdade social. Apesar dos avanços, a ONU divulgou que, em 2022, 1,2 bilhão de pessoas ainda vivem em situação de extrema pobreza em todo mundo. Pelas projeções da ONU, ao final da década – e do prazo dos ODSs – ainda teremos 640 milhões de pessoas, o equivalente a 8% da população mundial, passando fome.
Segundo o presidente da Assembleia Geral da ONU, Dennis Francis, apenas 15% das 169 sub-metas dos ODSs estão prosseguindo no ritmo esperado, enquanto outras estão, infelizmente, retrocedendo. O contexto de crise na última década, com a pandemia da Covid-19 e uma série de conflitos e instabilidade política em boa parte do mundo, é o principal motivo para o atraso nos ODSs. Mas a ONU afirma que nada está perdido, e com uma ação coordenada e ambiciosa é possível tirar mais centenas de milhões de pessoas da pobreza e da fome até 2030.
Setor financeiro é essencial para concretizar objetivos de desenvolvimento sustentável
Uma boa notícia é que, nos últimos dois anos, se intensificaram bastante as iniciativas de ESG das maiores empresas do mundo guiadas pelas ODSs. Uma das funções dos Objetivos de Desenvolvimento é justamente proporcionar um “norte” de prioridades que são apresentadas de forma objetiva e clara, o que pode guiar os programas de ESG, responsabilidade social e cidadania corporativa das empresas. As ODSs também estão sendo amplamente utilizadas no Terceiro Setor para que as OSCs obtenham maior foco e efetividade em suas ações sociais.
Certamente, a adoção mais ampla das ODSs como metas em comum para governos, agências intergovernamentais como a ONU, sistemas de financiamento, o setor privado e o terceiro setor, vai acelerar o ritmo para o atingimento das metas.
Um aspecto crucial para que ainda consigamos atingir a maior parte das metas dos ODSs é o financiamento. Neste campo, o setor financeiro, em especial o Private Equity, tem muito a contribuir. Nas últimas décadas, o desenvolvimento tecnológico e dos mecanismos do mercado financeiro levaram a uma grande prosperidade. Agora é o momento dessa riqueza criada ser mais bem distribuída. A expertise do setor financeiro deve guiar a criação de novos mecanismos de financiamento, linhas de crédito e uma execução do investimento que tenha maior efetividade e resultados mensuráveis.
Dentro desse universo, o Venture Philanthropy, que utiliza os conceitos e métodos do Private Equity para apoiar ações de impacto social, surge como uma ferramenta ideal para auxiliar na efetivação dos ODSs. Principalmente se combinado a outras abordagens, como o investimento social e o empreendedorismo social, Venture Philanthropy não só aproxima o ecossistema de finanças com o de impacto social. As metodologias desenvolvidas no Private Equity para avaliar empresas em processo de aquisição por meio do due dilligence, e o apoio em melhorias de gestão, tecnológicas, de comunicação e mensuração de resultados, são adaptadas para as organizações da sociedade civil no Venture Philanthropy. Se bem aplicadas, elas podem acelerar bastante a oferta social e trazer resultados rapidamente.
Nestes sete anos e meio até esgotar o prazo para o cumprimento das ODSs, não podemos desanimar com as dificuldades. É hora de redobrar os esforços e focar na efetividade das ações para, mesmo que não cheguemos a todas as metas, estejamos em 2030 bem mais próximos do que estamos agora. Para que isso aconteça, é essencial a coordenação entre todos os atores envolvidos, desde a ONU até todas as organizações que atuam na ponta. Já criamos uma boa base de disseminação das 17 metas entre o primeiro, segundo e terceiro setores, agora é arregaçar as mangas e mãos à obra!