Os aprendizados dos 2 anos de Instituto Órizon para o setor de Private Equity

Agora em março de 2023, o Instituto Órizon¸ projeto social que reúne alguns dos principais players do setor de Private Equity no Brasil – SPX CapitalPatria InvestmentsVinci Partners e Warburg Pincus LLC – completa dois anos. Quando resolvemos nos juntar para apoiar ações de impacto na Educação e divulgar o conceito de Venture Philanthropy no Brasil, vivíamos um momento muito duro da pandemia da Covid-19, ainda sem vacina e com um imenso impacto econômico que atingiu principalmente os mais vulneráveis.

Entendendo que cada um precisava fazer sua parte para ajudar quem mais precisava naquele momento, começamos a conversar e percebemos que a Educação era o campo mais fértil para gerar verdadeiras transformações positivas na sociedade. Lançamos nosso primeiro edital de apoio para oferecer não só recursos financeiros, mas também a expertise que adquirimos no setor financeiro e de investimentos para ajudar as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) a potencializarem suas ações, ganharem escala e transformarem a vida de cada vez mais pessoas.

O edital foi um sucesso, com mais de 240 organizações se inscrevendo e, após anunciar as três contempladas – Mão Amiga – Vis Foundation BrasilPró-Saber SP e REDE CRUZADA, no final de 2021, começamos a trabalhar em proximidade com as organizações para solucionarmos os principais problemas que elas enfrentavam. Durante todo o ano de 2022, foram implementados os planos de melhoria, com foco na transformação digital, um dos principais pontos apontados pelas OSCs.

Foram dois anos de muito aprendizado. Entendemos um pouco da imensa complexidade que cerca o tema Educação e o contexto social brasileiro, como o trabalho social é feito no dia a dia e o que realmente pode aumentar a eficiência e alcance das ofertas sociais dessas organizações. Mas também aprendemos lições que iremos levar para as próprias empresas de Private Equity que são parte do Órizon. O setor financeiro ocupa um espaço bastante privilegiado da sociedade, e corremos o risco de ficarmos muito distantes da base mais vulnerável da pirâmide social. Ao conhecer a realidade social brasileira mais a fundo, mudamos nossas percepções e atitudes.

Pensando nisso, reunimos representantes dos nossos quatro fundos fundadores, Eduardo Rubini, do Warburg Pincus, Antonio Pedro Bulcão, do SPX Capital, Bruno Zaremba, da Vinci Partners, e Camilla Merker, do Pátria Investimentos, para compartilhar o que eles aprenderam nesse rico processo, como a percepção deles sobre o Terceiro Setor mudou e o que pode ser levado de volta ao contexto do Private Equity.

Eduardo Rubini – Warburg Pincus

A sua percepção em relação ao modelo de negócio do Terceiro Setor mudou após a vivência com as OSCs neste período? O que mudou?

O Instituto Órizon abriu meus olhos para as várias complexidades de pensar um modelo de negócios para uma atividade nas quais as definições tradicionais de produto e de valor gerado para o “cliente” não abarcam o enorme impacto social e benefício de longo prazo gerado para as comunidades em que as OSCs atuam. No entanto, é sim possível pensar esses impactos de maneira precisa e quantitativa, o que suporta a construção de modelos de negócios rentáveis e perenes para as OSCs e reduz muito sua dependência de doações, garantindo que as organizações sejam autossustentáveis. Hoje, vejo que uma das atividades mais importantes para a perenidade financeira de uma OSC não é pensar em avenidas contínuas de financiamento externo – e sim estruturar maneiras de fazer com que corporações, indivíduos e governos a remunerem pelo enorme impacto positivo gerado para cada um destes entes e para a sociedade como um todo.

Antonio Pedro Bulcão, SPX Capital

Dentro do contexto do Venture Philanthropy, depois de dois anos, como você avalia a importância para os fundos ou outras empresas aderirem a esse tipo de iniciativa de impacto?

Acho que as empresas e fundos se envolverem com filantropia de uma forma geral é muito importante. Primeiro, porque é uma forma de contribuírem para a sociedade e para as suas comunidades, como todos os indivíduos deviam fazer (essa é a razão altruísta para fazer filantropia). Além disso, em um mundo cada vez mais ligado a questões de ESG, naturalmente as empresas que não se conectarem com esse tema terão menos acesso a capital financeiro e humano (razão egoísta). Nesse contexto, acredito que o Venture Philanthropy é uma forma muito legal para as empresas e fundos se engajarem com o tema. Infelizmente tenho visto que muitas empresas do terceiro setor são pouco eficientes. Essa ineficiência acaba fazendo com que os recursos que elas obtêm sejam mal aproveitados, minimizando o impacto que poderiam ter. O Venture Philanthropy vem para trazer maior profissionalismo para as organizações sociais e alocar o capital disponível para esse tipo de iniciativa de forma mais produtiva possível. Além disso, ele ajuda as organizações sociais não só com capital financeiro com também com o tempo de pessoas de altíssima competência que as organizações sociais muitas vezes não conseguem acessar. Finalmente, para os fundos e empresas o Venture Philanthropy parece uma alternativa melhor para fazer filantropia pois tem o compromisso de acompanhar o resultado das iniciativas, o que possibilita aos apoiadores entender, acompanhar e comunicar para os seus stakeholders os seus esforços sociais. Resumindo, vejo com muito entusiasmo o crescimento do Venture Philanthropy no Brasil, e estou feliz em poder ajudar.

Bruno Zaremba – Vinci Partners

Quais os principais desafios que percebeu nestes dois primeiros anos para conciliar esses dois modelos de negócios diferentes?

O conceito no momento da fundação do Órizon foi aplicar o Venture Philanthropy (“VP”) nas OSCs apoiadas pelo instituto. Na Vinci Partners temos mais de 20 anos de experiência investindo em Private Equity no Brasil, que foi adicionada à experiência dos demais sócios fundadores do Órizon, e transformada no motor de desenvolvimento das OSCs parceiras.

Eu acredito que os desafios do VP e do investimento de Private Equity, sejam substancialmente similares. Isso acontece porque a trajetória inteira do investimento percorre um caminho muito parecido, na verdade praticamente idêntico. Seleção de uma oportunidade de alocação do capital, onde ele possa transformar a realidade do ativo, seja ele uma empresa ou uma OSC.

Nesse contexto, o principal desafio é, na minha visão, muito similar. O ponto fundamental deve ser o alinhamento de direção estratégica para o ativo entre nós (Órizon/Fundos) e sócios fundadores. Qual o objetivo comum que temos em 5 anos? Como vamos aumentar a probabilidade de alcançá-lo com o nosso capital e conhecimento? Como vamos agir no caso quase certo de termos um desvio em relação ao plano inicial, e um ajuste de rota se faça necessário? Existe um alinhamento de filosofia e crença entre nós e os fundadores?

Dessa forma, vejo que as experiências de lado a lado potencializam uma à outra. Temos empresas investidas profundamente engajadas com o Órizon, temos OSCs apoiadas mostrando um desenvolvimento surpreendente desde a nossa entrada, com fundadores e parceiros muito satisfeitos com as realizações até aqui, e animados com o futuro. O objetivo do nosso envolvimento e capital é que consigamos alcançar um ciclo de prosperidade para todos envolvidos. OSCs com maior capacidade de atração de recursos, mais organização, aumento no número de beneficiários, e no final, alcançar um crescimento sustentável.

A história sempre foi um importante ativo no nosso negócio. Parcerias de sucesso, no mundo corporativo, atraem mais parcerias de sucesso. O nosso histórico como investidor de PE no Brasil gera mais oportunidades de investimento e crescimento em outros ativos. Para o Órizon os desafios são os mesmos, e posso dizer com conforto que os primeiros dois anos mostram que o instituto está no caminho certo.

Camilla Merker – Pátria Investimentos

O que você teve de aprendizados que podem ser levados para o contexto de Private Equity?

Vejo lições valiosas que podem ser levadas para o contexto de Private Equity. Algumas delas são:

Investimento orientado a propósito: as organizações sem fins lucrativos geralmente se concentram em atingir uma meta social ou ambiental específica, e o setor de Private Equity pode aprender com essa abordagem concentrando-se em investimentos que tenham um propósito claro, além de apenas retornos financeiros. Isso pode incluir investimentos em empresas que estão trabalhando para enfrentar desafios sociais ou que tenham um impacto positivo no meio ambiente.

Colaboração: organizações sem fins lucrativos geralmente trabalham em colaboração com outras organizações, compartilhando recursos e conhecimentos para atingir objetivos comuns. Da mesma forma, o setor de Private Equity pode se beneficiar da colaboração com outros investidores ou parceiros do setor para alcançar objetivos compartilhados.

Envolvimento das partes interessadas: organizações sem fins lucrativos geralmente se envolvem com uma ampla gama de partes interessadas, incluindo doadores, voluntários e as comunidades que atendem. O setor de Private Equity pode aprender com essa abordagem envolvendo-se com as partes interessadas de suas empresas de portfólio, incluindo funcionários, clientes e fornecedores, para entender suas perspectivas e prioridades.

Medição de impacto: organizações sem fins lucrativos geralmente se concentram em medir o impacto de suas atividades, e o setor de Private Equity pode se beneficiar da adoção de estruturas de medição de impacto semelhantes para avaliar o impacto social e ambiental de seus investimentos.

Pensamento de longo prazo: organizações sem fins lucrativos geralmente têm uma visão de longo prazo, reconhecendo que a mudança social e ambiental leva tempo. O setor de Private Equity pode se beneficiar adotando uma mentalidade semelhante, reconhecendo que as estratégias de investimento sustentáveis requerem uma perspectiva de longo prazo e um foco no impacto de longo prazo de seus investimentos.

No geral, ao aprender com o terceiro setor, o setor de Private Equity pode desenvolver estratégias de investimento mais orientadas por propósitos que se alinhem com os objetivos mais amplos da sociedade e contribuam para o desenvolvimento sustentável.

Estamos muito felizes com o envolvimento de todas as nossas empresas mantenedoras com as ações desenvolvida para as OSCs apoiadas pelo Órizon, e pela oportunidade que o projeto oferece às próprias empresas para divulgarem o conceito de Venture Philanthropy e da necessidade do setor financeiro utilizar sua expertise para impulsionar o impacto social.

Que os próximos anos sejam de ainda mais parcerias, aprendizados e realizações!

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