Em evento de final de final de ano do Instituto Órizon, o convidado Olavo Nogueira Filho, Diretor Executivo do Todos Pela Educação, dividiu conosco o seu olhar sobre a educação básica pública, a chave para um Brasil melhor.
Para começar, ele fez um “nivelamento rápido”, onde apresentou resumidamente como se organiza o sistema brasileiro de Educação Básica, que reúne quase 48 milhões de estudantes, 81% na rede pública, da creche ao Ensino Médio, 2,2 milhões de docentes e quase 180 mil escolas. E apresentou três mitos sobre a educação básica pública brasileira, com dados que os contradizem e nos dão razão para ter esperança.
Os mitos sobre a educação brasileira
O primeiro: “Educação pública no Brasil não tem jeito – era até boa no passado, mas hoje o cenário é de terra arrasada e nada muda”. Para mostrar que isso não corresponde à realidade, ele mostrou dados impressionantes. Em 1970, apenas 9% das crianças de 4 a 6 anos, 67% de 7 a 14 anos e 40% 15 a 17 anos, estavam na escola. No geral, 52% da população entre 4 e 17 anos não tinha acesso à educação. A escola podia até ser boa, mas era para poucos. Já em 2019, os dados mais recentes: 94% das crianças de 4 a 6 anos, 98% de 6 a 14 anos e 94% de 15 a 17 estavam na escola, o que indica a quase universalização do acesso ao ensino no Brasil.
Para quem acha que essa universalização não corresponde a um avanço na qualidade do ensino, Nogueira ressaltou que, embora os dados referentes à qualidade ainda sejam críticos, também houve um impressionante avanço nas últimas duas décadas. Em 2019: 61,1% dos estudantes tinham um nível de aprendizagem considerado adequado em Língua Portuguesa, e 51,5% em Matemática. Em 2001, eram 23,7% em Língua Portuguesa e 14,9% em Matemática. Avanços expressivos, que mostram como não estamos em “terra arrasada”.
O segundo mito é: “Eu até acredito que dá pra melhorar a educação pública, mas demora muito, melhor pensarmos em paliativos”. A realidade é que, na última década, tivemos melhoria expressiva em nível de sistema. Nogueira trouxe o exemplo de Sobral, no Ceará, considerada um modelo de como a qualidade da educação pode evoluir rapidamente. Atualmente, a cidade tem o melhor IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) entre municípios com mais de 100 mil habitantes. A nota subiu de 4,0 para 9,1 entre 2005 e 2017. A média no Ceará é de 6,2, e a média nacional, 5,6. Entre as capitais, se destaca Teresina, cuja nota subiu de 4,2 para 7,4. A nível estadual, a avaliação do Ensino Fundamental I subiu de 2,8 para 6,3 no Ceará. Já no Ensino Médio, a nota subiu de 2,7 para 4,4 em Pernambuco. Esse avanço mostra como é possível fazer a diferença em cenários adversos.
Finalizando, o terceiro mito: “Educação pública é de fato importante, mas como meu filho está na escola particular, fico menos preocupado pois esse problema não me atinge”. O diretor da Todos Pela Educação rebateu essa ideia mostrando os efeitos da educação na vida dos indivíduos e para o país como um todo. Para isso, trouxe cálculos, com dados brasileiros, feitos pelo economista Ricardo Paes de Barros. Aos 35 anos, a probabilidade de avaliar seu estado de saúde como bom era de 60% para pessoas com o Ensino Fundamental Incompleto, e de 68% para quem tinha o Ensino Médio Completo. A probabilidade de ter uma ocupação formal era de 50% para Fundamental Incompleto, e 77% para Médio Completo. A renda familiar mensal per capita era de R$ 643 para o Fundamental Incompleto contra R$ 1.425 para o Médio Completo.
Sobre os efeitos da educação para o país, ele trouxe os estudos do economista Samuel Pessoa, mostrando que em todo lugar muito desigual a distribuição da educação é muito desigual, e que a educação é um dos fatores que causa o crescimento econômico. Para se ter uma ideia, a hora trabalhada no Brasil produz apenas um quinto da hora trabalhada nos EUA, e 35% disso deve-se ao atraso educacional. Ele lembrou que não basta só escolaridade, tem que ter qualidade, e que a educação não resolve todos os problemas, mas é central para promover um ciclo virtuoso na sociedade.
Nogueira também mostrou qual o tamanho do desafio que ainda temos pela frente. Por exemplo, o percentual de estudantes com nível de proficiência considerado o mínimo adequado em Leitura aos 15 anos (Nível 2 do PISA), em 2018, era de 77% na média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. No Brasil, era de 50%. E finalizou com a pergunta: “O que eu posso fazer?”. Em resposta, deu duas sugestões: Conhecer mais, estudando e se apropriando dos dados para entender o que é preciso fazer; e vocalizar, lembrando que 2022 será um ano decisivo para a reconstrução do Brasil, com eleições.
Todos os que querem uma educação melhor devem participar do debate público, pelas redes sociais, pela mídia e nas conversas do dia a dia.
Para saber mais:
Documento Técnico Educação Já – Todos Pela Educação