Pilar social do ESG vive momento de desafios e oportunidades

No artigo anterior, falamos sobre algumas das tendências mais recentes do lado ambiental, mas agora é hora de abordar o pilar social do ESG. Agora, vamos nos aprofundar um pouco na segunda letra da sigla, o S, de “social”. Como dissemos anteriormente, os três pilares do ESG – meio ambiente, social e governança são interligados, e é difícil pensar em cada um separadamente. A relação entre as questões ambientais e sociais são particularmente conectadas. Já é consenso, inclusive nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, que o desenvolvimento sustentável deve se dar conciliando a preservação ambiental e um desenvolvimento econômico que inclua as populações mais vulneráveis e diminua as desigualdades sociais.

A pandemia da Covid-19 evidenciou os grandes desafios sociais que enfrentamos, seja nos países mais desenvolvido quanto nos em desenvolvimento. Enquanto a pandemia impactou fortemente as populações mais vulneráveis, gerando perda de empregos e renda, grandes prejuízos educacionais e aumento do preço de alimentos e outros itens básicos que aumentaram a insegurança alimentar, os mais ricos viram sua renda crescer, agravando ainda mais a desigualdade e concentrando a renda no topo da pirâmide.

No primeiro momento da pandemia, houve uma grande onda da solidariedade para prestar apoio aos mais impactados pela crise social gerada pela Covid, e as empresas se mobilizaram para fazer sua parte. Esse apoio foi fundamental no período mais agudo da crise, mas naturalmente, com a evolução da pandemia, as ações foram sendo descontinuadas. Em 2022, com a situação da pandemia mais controlada – embora seja importante lembrar que ela ainda não acabou – o foco voltou a ser maior para as questões de sustentabilidade ambiental. Outras tendências observadas no último ano impactam sobre o pilar social do ESG. Vamos falar sobre algumas delas.

Desafios à Diversidade & Inclusão são maiores que o esperado

No aspecto do pilar social do ESG, as principais ações e políticas das empresas costumam se dividir entre a Dimensão Interna (basicamente, o relacionamento com os colaboradores, fornecedores, prestadores de serviços e outros públicos que trabalham para a empresa), e a Dimensão Externa (os impactos das atividades da empresa no ecossistema no qual ela está presente, nas comunidades locais e formas de mitigá-los. Nos últimos anos, na dimensão interna, sem dúvida os maiores avanços se deram no debate sobre a Diversidade & Inclusão nas organizações. Frente a uma grande pressão de grupos minorizados – mulheres, negros, pessoas LGBTQIAP+, pessoas com deficiência etc., é inegável que as empresas estão entendendo e adotando ações para que suas equipes sejam mais diversas e inclusivas a todos os perfis de pessoas.

No entanto, é preciso apontar que essa mudança do perfil social, racial, de gênero e normativa tem avançado na base da força de trabalho, mas a nível de liderança a mudança é bem mais lenta. Por isso, no último ano se intensificou a demanda por ações afirmativas mais consistentes para colocar pessoas de grupos minorizados na alta direção da empresas. Uma pesquisa recente realizada nos EUA mostrou que contratar mulheres como CEO comprovadamente muda a forma como as empresas falam sobre gênero. As mulheres na liderança desconstroem estereótipos ligados à liderança masculina – como racionalidade e assertividade – sem perderem seu lado feminino.

Mais preocupante é o crescente clima de polarização e extremismo político que tem atingido fortemente o debate sobre feminismo, antirracismo, antihomofobia, anticapacitismo e outras pautas que entraram no debate público. O chamado backlash – a reação de grupos mais conservadores a esses avanços nos direitos de pessoas que fogem à normatividade – é um fenômeno já conhecido, mas que se intensificou à medida que os direitos são garantidos a esses grupos minorizados. Neste clima acirrado, as empresas têm um papel muito importante de darem o exemplo positivo para a sociedade, tratando desses temas de maneira séria e comprometida. Polêmicas recentes sobre a oferta de vagas com ações afirmativas, privilegiando pessoas negras, indígenas, LGTQIAP+ e PCDs, levantam o alerta para que as empresas comuniquem melhor a necessidade dessas ações afirmativas e os seus resultados – que são muito positivos.

Maior atenção ao pilar social do ESG ao longo das Supply Chains

Outra discussão que tem ganho força no contexto pós-pandemia é a maior atenção às cada vez mais longas cadeias de produção e distribuição, desde a extração das matérias primas até a distribuição do produto final. As chamadas supply chains hoje são globalizadas e funcionam como uma engrenagem hipercomplexa. Assim, além de ter atenção com seus funcionários próprios, as empresas também têm responsabilidade pelas relações de trabalho dos fornecedores, dos operadores logísticos e de transporte, e também pelo uso que os consumidores fazem de seus produtos.

A pandemia evidenciou os gargalos e custos ocultos destas supply chains, e como algo que estamos acostumados como consumidores – por exemplo, a entrega rápida de produtos em casa – depende do trabalho de muita gente, que pode estar sendo explorada ou tendo seus direitos desrespeitados. Em várias partes do mundo, novas regulações sobre as supply chains estão entrando em vigor para melhorar a rastreabilidade em cada etapa das cadeias para identificar e impedir violações de direitos humanos.

Social cada vez mais parte do ambiental

Realmente as estratégias para a transição climática, com a redução da emissão de gases que causam o aquecimento global e a busca por fontes de energia renováveis e limpas, são a grande prioridade na agenda ESG. Mas, nos últimos anos, tem crescido a percepção de que, se mal desenhadas, essas estratégias podem acabar punindo desproporcionalmente as populações mais vulneráveis – aquelas que menos contribuem para a causa das mudanças climáticas e mais sofrem com seus efeitos.

Em um contexto geopolítico e econômico desafiador, em que a pandemia foi seguida pela Guerra na Ucrânia e instabilidade política em grande parte do mundo, a economia global vive um ciclo inflacionário, e o custo da energia e dos combustíveis tem sido o grande vilão. Esse momento mostra a necessidade de desenvolver outras fontes de energia para que a economia seja menos dependente do petróleo e outros combustíveis fósseis, mas também que não é possível passar para a população o preço dessa transição climática. E o acesso a energia de forma confiável é um fator crucial para o desenvolvimento e a melhoria da vida das pessoas, em especial das mais pobres. As soluções para esse grande desafio serão cada vez mais valorizadas nos próximos anos.

O importante é que a compreensão de que não haverá soluções ambientais sem também abarcar o pilar social do ESG está cada vez mais disseminada. Vivemos num mundo onde tudo é interconectado. Muitas vezes coisas que consideramos triviais possuem externalidades que nem imaginamos, impactando a vida de muita gente que não conhecemos, mas a quem, de alguma forma, estamos ligados. Para gerenciar e conciliar tudo isso, é fundamental o terceiro pilar do ESG: a governança. Vamos falar mais sobre ela no próximo artigo!

Para saber mais:
Entendendo o S de ESG: como melhorar a responsabilidade social
Key trends that will drive the ESG agenda in 2022 – S&P Global (em inglês)

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