Entre as medidas adotadas em todo o mundo para tentar conter a disseminação da COVID-19 no ano passado, as aulas presenciais foram suspensas, da pré-escola à universidade, e bilhões de estudantes tiveram se adaptar às diversas modalidades de ensino à distância (EAD). Como já falamos aqui, o EAD era uma tendência que já se anunciava e possui benefícios, mas, principalmente para as crianças nos primeiros níveis de ensino, a socialização na sala de aula é insubstituível. Ou seja, o retorno às aulas presenciais precisa ser feito.
Além disso, o ensino remoto escancarou as grandes desigualdades no acesso às ferramentas digitais e a internet, que prejudicou especialmente os alunos mais pobres, que já têm mais dificuldade de evoluir no ensino. Com o avanço da vacinação e a perspectiva de finalmente vencermos o coronavírus em 2021, a reabertura das escolas está avançando e os estudantes estão voltando às aulas presenciais, no Brasil e no mundo.
Atenção no retorno às aulas presenciais
Neste último ano, aprendemos muito sobre o mecanismo de transmissão e protocolos para conter o vírus, e que é possível uma reabertura segura mesmo antes da vacina chegar a todos. Porém, principalmente na rede pública brasileira, que sofre com a falta de recursos e deficiências de infraestrutura, o desafio de adaptar a escola para essa nova realidade é enorme.
Nós do Instituto Órizon acreditamos que as aulas presenciais e o ambiente escolar são essenciais para o desenvolvimento de nossas crianças, mas que a reabertura das escolas só pode ocorrer em plena segurança. Embora os estudos mais recentes demonstrem que a reabertura segura é possível, casos de escolas que tiveram surtos de COVID-19 demonstram como qualquer deslize nos protocolos de segurança pode ser fatal. Gestores públicos e lideranças escolares devem assumir uma política de responsabilidade máxima na adoção de medidas necessárias para garantir a reabertura segura.
Educação como serviço essencial
Nos últimos meses, enquanto a segunda onda da COVID-19 no Brasil mantém índices muito altos de casos e mortes, tem crescido o debate sobre a educação presencial ser um serviço essencial e, portanto, as escolas abertas serem uma prioridade. Concordamos que a educação é sim essencial, mas alertamos que é preciso ter cautela sobre o que isso significa.
O substitutivo do Projeto de Lei Nº 5595/2020, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, que tem como objetivo “dispor sobre o reconhecimento da Educação Básica e do Ensino Superior, em formato presencial, como serviços e atividades essenciais”, embora atenue inadequações do projeto original, como não considerar as grandes diferenças regionais no Brasil, ainda trás o risco de aumentar a pressão das autoridades municipais e estaduais por uma reabertura sem a segurança necessária. Em especial, a falta de parâmetros e indicadores orientadores gera esse risco.
Organizações sociais têm papel importante para retorno às aulas presenciais
As organizações sociais que tratam do tema da educação no Brasil têm tido um papel importante neste debate. A Todos pela Educação, por exemplo, produziu um excelente documento de recomendações para orientar a volta às aulas, baseados nos mais relevantes estudos internacionais sobre a questão. Há uma série de desafios, que vão da readequação da estrutura física das escolas, para garantir a boa ventilação e circulação de ar, o distanciamento e a higiene e limpeza, até a conectividade das escolas, a readequação do calendário e o currículo escolar, e a comunicação com a comunidade escolar sobre o retorno às aulas presenciais e os protocolos.
Em especial, será preciso identificar os alunos que ficaram para trás na aprendizagem no último ano e dar atenção especial para que eles se recuperem. Não são poucas as dificuldades que ainda iremos enfrentar, e é importante lembrar que a pandemia não terminou e só será vencida efetivamente com a vacinação. Mas temos certeza de que venceremos esse desafio e teremos como legado uma educação mais segura e inclusiva!