Venture Philanthropy: o mindset do private equity aplicado ao investimento de impacto social

Venture Philanthropy

Nos últimos anos, estamos assistindo a uma verdadeira revolução no universo da filantropia e do terceiro setor. Novos atores, como Venture Philanthropy, entraram em cena e estão investindo em ações de impacto socioambiental. Além dos sempre bem vindos recursos financeiros, eles trazem também uma mentalidade de gestão moderna para que estes recursos gerem transformação real na vida de muitas pessoas, contribuindo assim para um futuro melhor para o planeta e a sociedade. O ESG, como já mostramos, é um exemplo de como grandes investidores e fundos têm se comprometido com temas socioambientais “botando o dinheiro onde o coração está”, conforme o dito popular.

O ESG já está se popularizando no Brasil, mas há outra abordagem sobre investimento de impacto social, consolidado principalmente nos Estados Unidos e Europa, mas que só agora começa a dar os primeiros passos no nosso país: o Venture Philanthropy.

Se você nunca ouviu falar disso, não se preocupe, vamos explicar.

O que é Venture Philanthropy?

O termo Venture Philanthropy é derivado de Venture Capital, o modelo de investimento que possibilitou o desenvolvimento da economia das startups, por exemplo. Os venture capitalists que investem nas startups de tecnologia, principalmente do Vale do Silício, nos EUA, são conhecidos por assumirem um grau relativamente alto de risco apostando em empresas que desenvolvem inovações e soluções com potencial gerar grandes transformações na economia. Essa mentalidade foi levada para o Terceiro Setor, por investidores que tinham o desejo de intervir em causas socioambientais. O foco do Venture Philanthropy é gerar capital e escala para as ações inovadoras e com maior potencial de escalar suas iniciativas para impactar a sociedade.

Os principais diferenciais do Venture Philanthropy são:

• o suporte não-financeiro às OSCs, na forma de capacitação, transferência de tecnologia e ferramentas de gestão para potencializar ainda mais a iniciativa;
• o cuidado em construir planos de financiamento customizados de acordo com as necessidades de cada entidade e ação;
• o alto grau de comprometimento dos investidores, dispostos a aceitar riscos e trabalhar a longo prazo com as entidades sem fins lucrativos que desenvolvem as ações de impacto.

Origens do Venture Philanthropy

O termo Venture Philanthropy foi originalmente criado pelo magnata e filantropo John D. Rockefeller III, em 1969, com uma definição curiosa: “uma abordagem aventureira para financiar causas impopulares”. Ou seja, a ideia de que haveria um risco envolvido e um ímpeto de apoiar ações que iam na contramão do que a maioria das entidades estava fazendo.

O grande sucesso da cultura startup do Vale do Silício, na região da Baía de San Francisco, na Califórnia (EUA), a partir da década de 1980, no qual os Venture Investors tiveram um papel fundamental, criou os gigantes que hoje estão entre as empresas de maior valor de mercado, como Apple, Google, Amazon e Facebook.

A cultura do Silicon Valley sempre valorizou o engajamento em ações sociais e comunitárias e, com muitos recursos circulando, alguns desses investidores venture passaram a usar esse modelo ao investir em ações socioambientais, em setores como conservação de ecossistemas, educação e saúde. Com o desenvolvimento de conceitos como ESG e investimento de impacto, o Venture Philanthropy se destaca como uma modalidade que envolve grande engajamento e as metodologias mais avançadas de gestão.

Como funciona a modalidade de investimento

No modelo tradicional de filantropia, empresas conduzem diretamente, ou por meio de fundações ligadas a elas, ações sociais. O modelo do Venture Philanthropy é diferente, e valoriza os intermediários: as OSCs e entidades sem fins lucrativos que têm sua visão, missão e valores e métodos próprios, e conhecem intimamente o público final, aqueles que serão beneficiados pelas ações. Essa modalidade se apoia em três eixos:

• Financiamento Customizado: Como especialistas em investimento, os gestores de Venture Philanthropy mergulham nas entidades que irão receber o financiamento para entender suas necessidades e situação financeira e montam um plano customizado que envolvem grants (doações de recursos a “fundo perdido”), empréstimos, títulos de dívida e outras formas de recursos, e chamados instrumentos de “financiamento híbrido”. Um dos princípios é que esse financiamento seja sustentado a longo prazo.

Suporte organizacional: além de recursos financeiros, os gestores dos fundos de Venture Philanthropy mapeiam todas as necessidades (operacionais, de formação, estrutura etc.) das OSCs e oferecem serviços que envolvem sua expertise ou a de parceiros. Por exemplo: coaching para a equipe de gestão da ONG, acompanhamento do planejamento estratégico, consultoria de fundraising.

Mensuração e gestão de impacto: O Venture Philanthropy traz métricas e ferramentas de mensuração de resultado do mundo dos negócios para ter uma visão precisa do impacto gerado pela ação e implementar medidas para a melhoria constante dos resultados.

A filosofia do Venture Philanthropy abre caminho para as entidades sem fins lucrativos:

• Ampliarem suas fontes de financiamento para além das doações (grants), obtendo acesso a instrumentos antes utilizados apenas no mercado financeiro.

• Fortalecerem sua organização: um dos princípios do Venture Philanthropy é fortalecer todo o ecossistema do terceiro setor, com o capital apoiando ONGs especializada em vez de atuar diretamente.

• Mudarem seu mindset ao entrarem em contato com as metodologias e ferramentas mais avançadas, utilizadas por startups e empresas de tecnologia que estão revolucionando o mercado em temas como finanças, varejo e entretenimento, e consolidarem o trabalho em rede como parte de sua cultura.

O conceito Venture Philanthropy ainda é pouco difundido no Brasil, e não há muitas referências em português sobre o tema. Mas temos certeza de que isso vai mudar. Os líderes empresariais e do mercado estão conscientes sobre a necessidade de usarem seus recursos para resolverem os problemas que impedem o desenvolvimento social e ameaçam o planeta, e buscam as ferramentas e métodos mais efetivos para realizar transformações concretas.

O Instituto Órizon nasceu com a missão de difundir essa cultura em nosso país e ser referência no tema.

Se depender de nós, você ainda vai ouvir falar muito sobre Venture Philanthropy!

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